Editorial | 14 de Dez de 2017 - 11h12

Abrace o Jornalismo

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A imprensa atualmente vive o maior paradoxo de sua existência. Quanto mais fácil se tem acesso à informação, mais os veículos de comunicação tradicionais sofrem em não saber lidar com novas tecnologias, mudanças no perfil dos público consumidor e em como se mostrarem influentes e relevantes.
 
Hoje em dia, a notícia está em qualquer postagem do Facebook, num flagrante compartilhado no Whatsapp, numa foto tirada no Instagram. Todos podem comentar e postar nas redes, sem necessidade de intermédio das grandes empresas de comunicação. Essas, na tentativa de acompanhar as mudanças, jogam-se numa presença maciça na rede, pasteurizam conteúdos, perdem profundidade, sacrificam a criatividade, mas conseguem ter milhares de “likes” e compartilhamentos.
 
Na briga com o cidadão comum, que também produz conteúdo, a imprensa tradicional baixou o padrão. Ao invés de fazer uso das ferramentas tecnológicas para aprimorar o que já faziam, passaram a utilizá-las para incentivar um feedback que não informa e não agrega. Por exemplo, virou mania, em diversos telejornais nacionais e locais, ler a opinião do público ao vivo através do Whatsapp, como se isso fosse a coisa mais moderna do mundo.
 
Com  a desculpa meio bamba de “aproximar o público do jornal”, lêem-se dezenas de comentários repetitivos, que em nada ajudam a informar e só enchem linguiça para ocupar o horário.  E não há nada de novo e revolucionário nisso. Os telespectadores já enviavam cartas e e-mails para as redações. A diferença é que, agora, essa interação ganhou um fajuto ar de “modernidade” e ocupa preciosos minutos no ar.
 
O texto sofrível de alguns portais, na busca por “likes”, tem que trazer logo no título da notícia a palavra “polêmica”. As coisas mais banais do mundo viram o tal. Recentemente, aqui em Sergipe, faixas de pedestres pintadas em terceira dimensão em Barra dos Coqueiros deixaram de ser uma curiosidade e passaram a ser meramente “polêmica”, embora o jornalista que tenha escrito a matéria não conseguisse saber dizer por que a faixa diferenciada merecia esse adjetivo. Toda vez que Fátima Bernardes posta foto com o namorado vira notícia agora, e acompanhada da frase pronta já gasta “causa polêmica”. Cadê a relevância?
 
É preciso quebrar essa limitação. As redes sociais e as novas ferramentas tecnológicas não podem suplantar aquilo que marca o verdadeiro Jornalismo, que é contar boas histórias! A criatividade, a busca por temas relevantes, o bom texto, que vá além das frases de efeito em busca de curtidas, podem ajudar a tirar o Jornalismo de certa apatia nesta segunda década do milênio.
 
Atualmente, há poucas iniciativas que não se dobram à “modernidade fajuta”. Merece destaque o programa Profissão Repórter, que virou uma ilha de excelência na Globo, embora ele não tenha tempo, muitas vezes, de se aprofundar nas questões e dê mais ênfase aos repórteres novatos, que acabam virando os personagens. A revista Piauí ainda é a única representante do Jornalismo Literário no país, em que o texto bem elaborado e a reportagem mais aprofundada, longe do factual insosso, brindam o leitor com histórias criativas, bem pesquisadas e com temas inéditos.
 
Resgatar o Jornalismo do marasmo. Essa será uma preocupação do portal Sergipe Agora. Não à toa, ele adotou o slogan “Abrace o Jornalismo”. Uma forma de valorizar a busca pela notícia, o bom texto, a criatividade, o jeito diferenciado de abordar os temas, com ênfase em personagens da comunidade. E uma atuação nas redes sociais centrada na divulgação mais rápida e abrangente das matérias. As redes também têm papel fundamental na captação de novas pautas. Esse, sim, um feedback positivo. O prazer de ler e se informar está de volta! O Jornalismo merece ser tratado com carinho e dedicação. Ele precisa ser abraçado para continuar essencial! Bem-vindo ao Sergipe Agora!