Reportagem | 29 de Jan de 2018 - 05h01

Quando os supermercados morrem

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Supermercado mais antigo de Sergipe fechou as portas


Nesta segunda-feira, 29, o supermercado mais antigo de Sergipe fechou definitivamente as portas. A unidade do Bompreço funcionava há mais de 50 anos na Praça João XXIII, em frente à Rodoviária Velha. O fim dessa loja só marca um período difícil para os comerciários sergipanos, visto que, desde o ano passado, mais de 6 mil deles perderam o emprego.
 
Somente em supermercados da rede Walmart, segundo o sindicato da categoria, foram feitos 200 cortes. A empresa fechou, entre 2016 e 2017, seis lojas, todas da bandeira Todo Dia, em Sergipe. “A gente prevê um ano de 2018 ainda mais sombrio para o setor. As redes já operam no limite, basta você entrar em qualquer supermercado da cidade para perceber que faltam funcionários. Há poucos caixas e, muitas vezes, o cliente tem até dificuldade para ser atendido, pois falta pessoal”, denuncia Ronildo Almeida, presidente do Sindicato dos Comerciários.
 
O supermercado da praça da Rodoviária Velha foi o primeiro da bandeira Bompreço a encerrar as atividades no Estado. O grupo Walmart garante que os funcionários serão remanejados para outras unidades do grupo, mas não diz com clareza se haverá mais demissões. Por enquanto, os antigos colaboradores veem com apreensão o fechamento da loja. “A gente fica à mercê do patrão, a gente fica nas mãos dele. Ou a gente aceita as mudanças, mesmo sem saber se serão boas para o trabalhador, ou vai parar no olho da rua”, admite Rosa, uma empregada da rede, que não quis dar o nome completo por temer represálias.
 
“Eles dizem que a gente irá para outras unidades, mas isso não é assim tão simples. As lojas atuais já têm seus quadros definidos. Não vislumbro que todos sejam aproveitados. Eu já estou com medo de ficar desempregado. Pior é que a gente só soube do fechamento da loja em cima da hora”, revela um operador de estoque que não quis se identificar.
 
O fechamento da loja do Bompreço também foi sentido por frequentadores da praça e até por outros comerciantes, que também lucravam com a movimentação na área. “Perdemos uma boa freguesia, não teremos mais gente com compras pegando condução aqui na rodoviária”, lamenta o taxista Osvaldo Lima. “Ficou péssimo para os ambulantes também, porque a gente só consegue vender onde há grande fluxo de pessoas, e isso acabou com o supermercado fechado”, diz o vendedor de churrasquinho Willames Dias.
 
Mudança de perfil
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Rede Todo Dia deixou de existir


O Walmart é a maior rede varejista do mundo, com faturamento de quase US$ 500 bilhões. No entanto, a empresa, que está no Brasil há 23 anos, jamais chegou a ameaçar a concorrência no país e sempre operou com maior prejuízo que os rivais. O grupo nunca saiu do terceiro lugar entre as redes de varejo brasileiras. Com um faturamento de cerca de R$ 30 bilhões, o Walmart perde feio para os grupos Pão de Açúcar, que fatura duas vezes mais e tem quatro vezes mais lojas, e o Cassino, que controla o Carrefour.
 
Diante do desemprenho pífio no Brasil, a matriz americana exige uma reestruturação, que envolve fechamento de lojas e investimento em um novo perfil de consumo: valorizam-se os hipermercados em detrimento das unidades menores e de bairro. Nessa lógica, a bandeira Todo Dia foi fechada.
 
“Eu gostava quando tinha o supermercado aqui no bairro. Nem sempre as coisas eram mais baratas nele, mas a gente tinha a vantagem de poder parcelar com o cartão em prazos maiores. Muita gente que mora aqui lamenta isso. Com o fechamento da loja, também se fecharam as oportunidades de negociação das compras. As redes menores que sobraram não parcelam ou só vendem à vista”, diz a diarista Iolanda Bispo dos Santos, triste com o fechamento de uma unidade do Todo Dia no Bairro 18 do Forte.
 
O Walmart não autoriza os seus gerentes a dar entrevista. Toda e qualquer informação sobre os supermercados da rede é dada pela assessoria da empresa através de nota. O grupo confirma que os funcionários da loja fechada na rodoviária deverão ser reaproveitados em outras filiais. A rede afirma que investirá R$ 1,5 bilhão na reforma de supermercados e hipermercados em todo país em 2018. A empresa não comenta a proposta de venda de metade de suas operações no país para o fundo de investimento Advent, mas admite que, com a reestruturação iniciada este ano, a marca Bompreço, tradicional no Nordeste, deixará de existir em no máximo três anos. Todas as lojas deverão ostentar apenas a marca Walmart.
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Walmart garante que funcionários serão remanejados, eles desconfiam