Pirro | 30 de Jan de 2018 - 04h01

Paternalismo entra em campo

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Edvaldo, ao lado de André Moura, assina patrocínio foto: Sérgio Silva/PMA


No mundo do futebol, o mês de janeiro é marcado por contratações de jogadores e definições para a temporada do ano que se inicia. Nesse contexto, a Prefeitura de Aracaju anunciou na segunda, 29, um patrocínio de R$ 200 mil para os dois maiores clubes sergipanos, o Confiança e o Sergipe.
O prefeito Edvaldo Nogueira, ao lado do deputado federal André Moura, vestiu até o uniforme colorado do Sergipe para anunciar a medida. Mas o que ninguém perguntou durante o evento, ou não quis perguntar, foi por que dinheiro público ajuda clubes de futebol, que são entidades privadas?
Não adianta tapar o sol com a peneira! O futebol sergipano é medíocre, tanto na gestão dos clubes, quanto na conquista de títulos. E isso passa muito pela capacidade que os times têm de se financiarem, conseguirem boas contratações e serem viáveis economicamente. Eles, antes de serem tragédias dentro de quadra, são péssimos exemplos de negócio. Então, volta-se à insistente pergunta (e perguntas sem respostas não faltam nesse tema), por que cabe então ao ente público financiar os times que são fiascos financeiros?
Patrocínio, pela lógica meramente mercantil, não é uma grana dada a fundo perdido, deve haver retorno, logo se exigem contrapartidas do time beneficiado. Uma empresa privada só irá financiar um clube se puder acreditar que ele dará resultados, que fará com que a marca estampada nos uniformes ganhe visibilidade em campeonatos com chance de vitória. Mas o que a Prefeitura ganha em troca, além do nome na camisa do time?
O acordo de liberação do patrocínio prevê que crianças e jovens carentes tenham acesso a atividades esportivas nas instalações dos clubes beneficiados. Bom, alguém realmente acha que uma tarde de lazer no campo do Sergipe ou Confiança com meia dúzia de guris da comunidade compensa os R$ 200 mil gastos?
Patrocínio público a times sergipanos não é nenhuma novidade. Isso já era praticado nas administrações anteriores. Logo, percebe-se que ele existe como uma espécie de ação paternalista. Os times, sem capacidade financeira de buscarem recursos por conta própria, recorrem sempre à camaradagem do dinheiro público. Os gestores, por seu lado, acham que essa benevolência com entidades privadas pode ser traduzida como “fomento ao esporte”. Um mero encontro de conveniências.
Indo mais além no tema, percebe-se que o futebol sergipano só se mantém porque possui o Estado bondoso por trás. Afnal, a média pífia de público nos jogos mal paga a conta de luz dos potentes refletores do Batistão. Tampouco paga os voos do helicóptero da PM nos dias de jogo. Futebol em Sergipe é ruim também para o bolso do contribuinte!
Ah, mas a solução é deixar os times morrerem? Não, mas por que não exigir mais transparência deles? Por que não obrigá-los a ter gestão eficiente, a apresentar plano de negócios, por que não incentivar parcerias com a iniciativa privada? Universidades e cursos de Educação Física poderiam elaborar planos de reestruturação dos clubes. Isso não acontece porque é mais fácil reclamar de dificuldades e contar com a mão amiga e benevolente do Estado-pai. Patrocínio sem comprometimento é doação!  
 
André em todas
 
O deputado federal André Moura (PSC) não sai mais do lado do prefeito aracajuano Edvaldo Nogueira. Ontem, ambos participaram do lançamento do Plano de Mobilidade da capital, projeto que prevê a liberação de R$ 130 milhões para a pavimentação dos principais corredores de transporte urbano, reforma de pontos de ônibus e terminais e instalação de semáforos inteligentes. Esses recursos só foram liberados por influência do parlamentar em Brasília. Aliás, viabilizar a liberação de recursos para prefeituras do Estado tem se tornado uma especialidade de André Moura, estratégia dele que serve para calar rivais e atrair novos aliados, como o prefeito de Itabaiana Valmir de Francisquinho, que decidiu apoiar o deputado numa eventual candidatura ao Senado neste ano, graças à verba liberada para a cidade do Agreste.
 
Ciumeira
 
A aproximação entre Edvaldo e André gera ciúmes nos grupamentos políticos de ambos. Muitos acham que o prefeito de Aracaju tem passado muito tempo com Moura, e os elogios causam mal-estar nos demais deputados federais. Eles reclamam que muitos dos recursos liberados para a capital são de decisões da bancada toda, mas só André Moura acaba com o louros.
 
Egoísmo musical
 
Absurdo ver pessoas que vão para os bloquinhos de carnaval, mas que não curtem a música do bloco. É gente que prefere abrir o porta-malas do carro para ouvir qualquer baixaria que emane de caixas de som instaladas nele. Um ato egoísta, pois estraga a festa de quem vai para a rua para curtir o bloco, que acaba obrigado a ouvir a música ruim do povo sem noção que leva som próprio. Coisas que só acontecem em Aracaju!