Editorial | 05 de Mar de 2018 - 04h03

Quem tem medo do Facebook?

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A recente decisão do Facebook de modificar seu algoritmo e fazer com que os usuários recebessem menos atualizações sobre notícias em seus feeds provocou certa revolta na imprensa internacional, que, por não entender a real importância dessa rede social, acaba supervalorizado-a e, de quebra, tornando o ambiente de difusão de informação menos democrático. 
No Brasil, a Folha de S.Paulo, principal periódico impresso do país, decidiu suspender suas postagens no Face há um mês. Para o jornal, não fazia mais sentido publicar coisas nessa rede social, pois a alteração no algoritmo traria uma diminuição nos acessos, e ainda há a questão da disputa com as fake news, que, segundo o jornal, domina o ambiente nas redes sociais. 
A Folha confia no seu próprio taco, pois acredita que os leitores acostumados a ver as postagens no Facebook migrarão para acessar o conteúdo do jornal apenas na web, fora das redes sociais. Há quem fale que a decisão do jornal foi mero melindre, além disso, ele usava a tecnologia paywall, ou seja, o Facebook só divulgava as matérias, mas o conteúdo pago só era realmente acessível a quem já fosse assinante ou assim se tornasse. Em suma, a Folha de S.Paulo só usava o Face para angariar mais assinantes. O jornal não praticava nenhuma democratização da informação nessa rede social. 
O site Brasil 247 e a revista Carta Capital, dois veículos tradicionais de difusão de uma visão jornalística impregnada de ideologia de esquerda, decidiram, após a mudança do Facebook, que iriam restringir o acesso de leitores a suas publicações. Nas páginas deles no Face, só recebem atualizações no feed e têm o espaço de comentários liberado quem apenas compartilha da mesma opinião que eles. Os seguidores que criticavam a ideologia desses veículos foram barrados dos comentários, o que mostra como esquerdistas só apreciam democracia quando não são incomodados por ela. Mais uma vez, o Facebook não pode ser culpado pela atitude autoritária da Carta Capital e do Brasil 247, que não respeitam a pluralidade de opinião. 
Óbvio que o Facebook teve influência nos rumos da eleição americana que elegeu Trump, afinal robôs e páginas falsas criadas nessa rede social por russos para tentar influenciar o resultado da pleito mostram isso. No entanto, a imprensa tradicional só percebeu isso depois? Parece infantil que os jornalistas mais premiados do mundo pela sua capacidade de investigação não tenham percebido que as páginas russas no Face eram fake. Onde estava o NY Times, a Time e o Washington Post durante a campanha? Será que eles não disseram nada porque temiam que Hillary Cliton também possuísse páginas robôs em sua defesa? 
Mais uma vez, o que se vê é que a imprensa não lida bem com o universo das redes sociais. De aliados, os veículos tradicionais agora apontam o Facebook como grande vilão. Mas ora, essa rede social nunca deixou de ser uma imensa mesa de bar, onde todos falam o que querem sem filtro. Cabe à imprensa tradicional perceber isso, e se limitar a atuar no Face como um espaço divulgador de sua informação. Ah, mas vira uma disputa injusta com as fake news. Pois bem! Mas revelar mentiras não é justamente a função da imprensa? Parece que investir em jornalismo investigativo e denunciar as fake news tem mais efeito purificador no Face que trancar a opinião de leitores e sair de forma esnobe como a Folha fez. A imprensa prestaria mais serviço à sociedade se enfatizasse sua importância dentro das redes sociais.