Reportagem | 02 de Jan de 2018 - 01h01

Verão da gasolina fervendo

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Postos da capital reajustaram gasolina em 10 centavos em média na semana passada


Enquanto os brasileiros se preparavam para soltar fogos na virada de ano e viajar nas férias, a Petrobras anunciava, no dia 30 de dezembro de 2017, o 12o reajuste nos preços dos combustíveis num único mês. Em apenas uma semana, o valor pago pela gasolina e diesel foi alterado para cima cinco vezes. Essas mudanças, quase diárias, deixam os consumidores atônitos, pois eles perdem o planejamento do quanto pretendem gastar.
“É como se a gente tivesse de volta o período de inflação alta, quando ninguém tinha noção de quanto custavam as coisas. Estamos totalmente à deriva neste país. E o cidadão se sente impotente, porque não tem alternativa, a não ser andar a pé!”, desabafa o servidor público Manuel Gonçalves.
Desde julho de 2017, a Petrobras reajustou em quase 30% a gasolina. Essa é a maior alta da história em período de tempo tão curto. Essa nova política de deixar o valor cobrado pelos combustíveis flutuar de acordo com o preço do petróleo no mercado externo já começa a alterar hábitos de consumo do aracajuano.
A fonoaudióloga Isabel Cecília Bispo afirma que nunca mais encheu o tanque por inteiro. Ela, que mora na Aruana, e trabalha no Centro, gasta, em média, R$ 100 por semana em gasolina. E é somente esse valor que ela completa toda a vez que vai ao posto. “Não dá mais para encher de vez, porque fica um total exorbitante. Também procuro dividir o carro com meu marido para economizar”, revela.
 
Pesquisa
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Cornélio Messias: consumidor tem que pesquisar


Outros motoristas preferem pesquisar por postos onde ocorrem promoções e o reajuste não é repassado de vez ao consumidor. Segundo o levantamento feito pelo Sergipe Agora, na semana passada, havia apenas um posto que vendia gasolina abaixo dos R$ 4 na capital, localizado na Praça da Bandeira.
A maioria dos postos vendia o litro de gasolina a R$ 4,19 na última semana do ano passado, mas esse valor foi reajustado em 10 centavos em média já a partir do dia 30 de dezembro, chegando a R$ 4,29. Alguns postos da Zona Norte e na BR-101 vendiam o combustível entre R$ 4,22 e R$ 4,26. A diferença é pouca, mas é levada em conta por quem quer economizar.
“Eu sempre procuro o lugar com a gasolina mais barata. E a gente tem que comparar se o álcool também vale a pena. Estamos sem muita opção porque tudo, até mesmo o GNV, está subindo também”,  diz o funcionário público Cornélio Messias.
O etanol só é mais vantajoso na hora de abastecer se, ao dividir o preço dele pelo da gasolina, se obtiver o resultado menor que 0,7. Acima desse valor, prefira a gasolina mesmo. Em Aracaju, o preço médio do etanol está um real a menos que o da gasolina. Então, ao se dividir R$ 3,29 por R$ 4,29 da gasolina, tem-se 0,76, logo, não vale a pena encher o tanque com etanol na maioria dos postos da capital.
 
GNV
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Custo para conversão ao GNV é alto


Outra alternativa que costuma ser bastante procurada pelos consumidores quando há altas sucessivas de preço de combustíveis é a conversão do carro para que passe a ser movido pelo gás natural veicular (GNV). De acordo com donos de oficinas que executam esse procedimento, houve um aumento de 30% em conversões em 2017.
Mas os empresários garantem que nem isso tem se mostrado mais tão vantajoso. “O GNV também está tendo altas. A mudança do veículo para rodar com gás tem um custo, sai em torno de R$ 3.800. Só vai compensar para quem roda muito, e pode diluir o preço desse investimento”, alerta a gerente de oficina Luciana Acácia Oliveira.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis de Sergipe (Sindpese), Mozart Augusto Oliveira, afirma que os próprios donos de postos acabam prejudicados com os aumentos sucessivos, pois, caso repassem de uma vez os custos ao consumidor, podem perder receita. “A gente segura até onde pode, já que negociamos o combustível com os revendedores e não diretamente com as refinarias, mas as próprias distribuidoras já estão reajustando na mesma intensidade”, explica o empresário.
 
 
Sentido econômico
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Somente um posto vende gasolina abaixo de R$ 4 em Aracaju


Se até os donos de postos estão reclamando, parece ser impossível encontrar quem defenda uma política de reajustes quase diários para os combustíveis. Mas essas pessoas existem! Segundo muitos economistas, a flutuação dos preços permite que a Petrobras reduza perdas e seja mais competitiva. A gasolina também chegou a ficar mais barata em 2017, mas o número de quedas foi menor que as altas.
“A falta de uma política coerente de prática do preço nos lesa mais, deixa-nos reféns de reajustes que caem de paraquedas uma vez ou outra. Agora, não. A gente pode colher os benefícios de uma queda nos preços ou de uma valorização do real, traduzidos em uma queda no preço da gasolina, quando isso acontecer. E se o preço do petróleo (no exterior) cai, a gente já vai ver um combustível um pouco mais barato na bomba. E essa chance agora é real, dada a política atual de preços. No passado, não era”, defende o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), André Braz.
No entanto, há quem ache que os reajustes poderiam ser mais espaçados, com uma periodicidade previsível, para fazer com que os consumidores se preparassem melhor. “ A gente vê com certa preocupação porque, às vezes, o consumidor não consegue se planejar para esses aumentos e até controlar seus gastos para abastecer, que são gastos fixos e acabam ficando variáveis. A gente sabe que, quando aumenta, aumenta para todo mundo; mas quando diminui, nem sempre diminui para todo mundo”, admite o coordenador da Área de Serviços da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Carlos Confort.