Pirro | 27 de Dez de 2017 - 03h12

Os 100 dias de governo de Lula ou Bolsonaro

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Populismo de ambos numa eventual eleição


O evento mais importante de 2018 será, sem nenhum questionamento, a eleição para presidente. Neste momento, o cenário para o pleito ainda se mostra nebuloso, em virtude das questões jurídicas envolvendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas já feitas até aqui. Em segundo, nessas mesmas sondagens, figura o deputado federal fluminense Jair Bolsonaro, figura controversa, que parece aglutinar em torno de si uma tendência conservadora e anti-establishment já presente em outros países.
Quando o fim do ano se aproxima, brotam previsões e perspectivas de como serão os próximos 365 dias. Quanto ao futuro do Brasil, apesar de pairar uma incerteza, não é difícil prever como seriam os governos de Lula ou Bolsonaro, caso algum deles fosse eleito em 2018. Não se trata de bancar a “Mãe Diná” ou o “Pai Jorge”, mas de tentar avaliar o cenário baseando-se na vida pública de ambos, na atuação em seus mandatos e nas eternas obviedades e vícios que dominam a política brasileira há 518 anos!
Não é preciso ter bola de cristal, só imaginação, e até mesmo certo senso de humor, para prever que os primeiros 100 dias dos governos de Lula ou Bolsonaro seriam assim:
 
100 dias de Lula
 
Após uma exaustiva campanha, em que Lula repetiu a mesma ladainha vitimista, aquela que ele usa há quase 40 anos, de que “as elite não gosta de ver o povo no poder”, ele consegue se eleger no segundo turno vencendo, mais uma vez, Geraldo Alckmin do PSDB.
A vitória de Lula não seria possível sem o apoio do “ex-golpista” MDB, que perdeu o P da sigla na tentativa de parecer menos Pilantra. Por essa razão, no discurso de posse, Lula fala em apaziguar ânimos, união, e parar com esse história de golpista, afinal é preciso afagar quem o apoiou. O bom e velho fisiologismo nunca morre, só muda de lado!
Nessa lógica, Renan Calheiros ganha o Ministério das Cidades; Eunício Oliveira leva o Banco do Nordeste de porteira fechada; Requião abocanha um assento no Conselho da Usina de Itaípu e Kátia Abreu, a ruralista neopetencostal convertida ao esquerdismo só por ser amiga de Dilma, fica com a pasta da Agricultura, após perder o governo do Tocantins.
Lógico que a Lava Jato não morrerá em 2018, e é sob o reflexo dela que decisões do governo Lula serão avaliadas. Então é preciso garantir foro privilegiado aos companheiros enrolados que ficaram sem mandato. Gleisi Hoffmann, após perder a reeleição, leva a pasta dos Direitos Humanos, Mulheres, Negros, Exilados, Gays, Lésbicas, Anões, Sacis, Curumins... e todas as minorias possíveis. Lindebergh Farias, também derrotado, ganha o Ministério dos Portos, só para não ficar a ver navios.
Para acomodar tanta gente comprometida com o Brasil, o número de ministérios salta de 28 para 39.  Afinal, sem maioria no Congresso, Lula começa a cortejar também o Centrão e os partidos do baixo clero, que vão com quem der mais.
Com as contas públicas em frangalhos, com déficits sucessivos desde 2014, o mercado quer ver algum sinal de austeridade. Lula, que se elegeu com a promessa de revigorar a economia e devolver empregos, não tem outra alternativa a não ser recorrer à alta de juros, mas antes envereda por uma agenda populista.
Volta o velho estímulo ao consumo subsidiado com juros artificiais pelos bancos públicos, que em um dia perdem 20% do valor de mercado por causa dessa medida. Mercado já viu esse filme e Bovespa cai para níveis de 2015 e dólar atinge marca dos R$3,50.
Lula, no desafio de fazer o país crescer, requenta o PAC, que passa a ser chamado de Programa de Aceleração do Crescimento Agora-Vai-ou-Racha (PACA). A captação de recursos via BNDES, com juros igualmente subsidiados, privilegia construtoras de médio porte, visto que as grandes empreiteiras ainda estarão enroladas na Lava Jato.
Sai a delação de Antônio Palocci. Lula desconversa e ignora o ex-aliado, que nem fez com Dirceu e companhia durante uma entrevista a uma TV portuguesa durante o julgamento do Mensalão pelo STF em 2012. A defesa de Lula cabe à tropa de choque petista no Congresso, que reacende o velho “eles contra nós” de sempre.
Sai a condenação de Gleise e o do marido dela Paulo Bernardo. Lula se abstém de defendê-la abertamente, apenas divulga nota dizendo que confia na Justiça. Militância vai para as ruas, mas não consegue reunir nem mil pessoas no Largo do Batata.
Com a imagem arranhada pelos novos acontecimentos da Lava Jato, Lula tenta lançar uma nova agenda positiva. Reajusta o Bolsa Família, mas omite o fato de que, com a inflação em queda desde 2016, o reajuste não acrescenta muito valor. Lula tenta aprovar uma nova tabela do Imposto de Renda, isentando quem ganha até R$ 5 mil. Medida não passa no Congresso, afinal, nem com Centrão, ele possui maioria.
BC revê meta de crescimento para baixo em 2019, aumenta previsão de juros e inflação.
 
100 dias de Bolsonaro
 
Eleito com um discurso de medo, conservadorismo e apostando no fato de ser “Ficha Limpa”, embora tenha sido condenado pelo STF por ofender a deputada Maria do Rosário, Bolsonaro sobe a rampa do Planalto sem ter qualificação nenhuma. Bom, não será o primeiro nessa condição, Dilma também não a tinha, mas, pelo menos, conseguia fazer sua arrogância parecer competência.
No discurso de posse, Bolsonaro emula seu colega americano Donald Trump e  fala que quer  “Brasil em Primeiro Lugar”, evoca imagens nacionalistas do país grande e paternalista e chega a ser comparado pela imprensa aos militares, por causa do famoso slogan “Brasil, Ame-o ou Deixe-o!”.
Sem grandes aliados, a não ser o Centrão, Bolsonaro começa a ser cortejado pelo MDB, que nunca soube não ser governo. Essa sigla leva metade dos ministérios. Mas o presidente não abre mão de entregar a pasta dos Direitos Humanos ao pastor Marcos Feliciano, o que gera protestos. Para amenizar os ânimos, ele indica Martha Suplicy para a Cultura. 
Mercado reage mal à agenda nacionalista de Bolsonaro, até porque ele não deixa claro o que pretende fazer na economia. Ele paralisa o programa de concessões e promete rever as já concedidas. Bolsa cai e dólar chega a R$ 3,50 em menos de um mês de mandato.
Como sempre defendeu truculência, Bolsonaro procura iniciar seu governo focando em ações de Segurança Pública. Garante a presença do Exército no Rio pelo tempo que julgar necessário. Na verdade, isso não dura um mês, mas serve para ele tentar mostrar algum serviço. Puro marketing.
Assim como Trump, Bolsonaro começa a despejar impropérios pelo Twitter e passa a governar pela tela do computador. Oposição tenta impichá-lo por comportamento não condizente com a função após ele ofender de “assassinas” as mulheres que praticam aborto. Ele, para variar, não pede desculpas.
Diante do governo acéfelo, MDB e tucanos tentam influenciar os rumos da economia. O presidente do Itaú vira o ministro da Fazenda, após os líderes do Senado e Câmara convencerem Bolsonaro que é preciso um nome do mercado. O ministro se compromete com uma agenda de austeridade fiscal. Investidores gostam da escolha e dólar cai um pouco.
Sem maioria no Congresso, Bolsonaro não vê alternativa a não ser abdicar das principais articulações políticas em favor do MDB, que passa a negociar cargos no varejo em nome do presidente.
Com um presidente fanfarrão e manipulável, o debate em torno do parlamentarismo ou do semi-presidencialismo volta a ganhar repercussão. Deputados e senadores defendem abertamente a aprovação de uma PEC que altere o regime de governo para entrar em vigor em 2023.
Bolsonaro, como todo ser autoritário, aprecia a possibilidade de ser reeleito presidente, embora não tenha função política, que ficaria com o primeiro-ministro do MDB.
Mercado dá o governo Bolsonaro como perdido e espera que a presença de um banqueiro na Fazenda evite mudanças radicais.  Começa a vigorar a teoria de que “se deixar quieto, não piora”. E assim, o novo presidente chega aos 100 dias de governo como um marionete sem inspiração, sendo pau-mandado do Congresso.
 
Fora da realidade?
 
É estranha essa obsessão dos políticos sergipanos em levar um curso de Medicina para a cidade de Estância. Isso só prova que a classe política anda,  quase sempre, em descompasso com a realidade. Ora, para que um curso lá se já há um campus da área da Saúde da UFS em Lagarto, a menos de 60km de distância? Não seria mais coerente defender a instalação de cursos condizentes com a realidade econômica local, como Logística (essencial na exportação de sucos de frutas, maior produto industrial de Estância), Engenharia de Produção, de Alimentos? Como sempre, falta visão e sobra papo demagógico!
 
Raiva e derrame
 
O governador Jackson Barreto teve tanto ódio da chantagem do presidente Temer que acabou sofrendo um derrame no olho direito no final de semana passado. Ele está em repouso e ficará afastado das funções até a próxima semana. O motivo da raiva de Jackson é que Michael Temer condicionou a liberação  de um empréstimo da União para Sergipe de R$ 560 milhões pela Caixa Econômica a apoio irrestrito à reforma da Previdência. Jackson se contrariou com a demora, ainda mais porque toda a documentação já estava OK para a liberação dos recursos em janeiro. Segundo o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, o dinheiro só deverá sair após a votação do projeto de reforma na Câmara em fevereiro de 2018.
 
Sem décimo-terceiro
 
Um milhão e meio de servidores de cinco estados ainda não receberam o 13o salário de 2017, Sergipe entre eles. Por aqui, o governo sem recursos apelou mais uma vez para o empréstimo consignado. Também estão devendo salário ao funcionalismo: Minas Gerais, Rio de janeiro, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. A situação é mais grave em Minas, onde 600 mil servidores não receberam o benefício e o déficit orçamentário chega a R$ 8 bilhões.