Pirro | 18 de Dez de 2017 - 04h12

Por que Pirro?

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Aracaju foi a segunda capital planejada do país


O que Aracaju, Teresina, Washington, Chicago e Paris têm em comum? Todas essas cidades, apesar de tão diferentes entre si e localizadas em países distintos, compartilham o mesmo modelo europeu de planejamento urbano que preponderou na segunda metade do século XIX. Tais planos valorizavam os quarteirões quadrados e ruas retas quase todas perpendiculares entre si. O bom e velho desenho de tabuleiro de xadrez.
 
Aracaju foi a segunda capital planejada do Brasil, fundada em 1855, dois anos após Teresina. Coube ao então presidente da província de Sergipe, Inácio Barbosa, criá-la com o objetivo de ser um porto para escoar a produção açucareira local, no lugar da antiga capital São Cristóvão, que era distante do mar.
 
Coube ao engenheiro militar Sebastião José Basílio Pirro ser uma espécie de Lúcio Costa aracajuano. Assim como o urbanista que projetou Brasília, Pirro fez o projeto da área central de Aracaju. Uma ideia simples, apenas 32 quadras entrecortadas por ruas perpendiculares a cada 110 metros. Esse tabuleiro ficou conhecido como “quadrado de Pirro”.
 
Tal plano ainda foi seguido mesmo quando a nova capital começou a crescer além do quadrado original, que compreende as ruas do atual centro da capital. Praticamente até a década de 1970, ainda se construía em Aracaju no padrão quadra separada de outra a cada 110 metros.
 
Esse desenho simétrico, com esquinas sempre a 90 graus, tornou Aracaju compacta na sua expansão urbana. De modo que todo mundo se encontrava, sentia-se próximo, vivenciava o tabuleiro. Uma cidade transparente, sem becos e ruelas. Feita para a gente se encontrar!
 
E essa é a razão de ser da coluna Pirro. Um grande ponto de encontro sobre Aracaju. Aqui estarão impressões sobre os mais recentes acontecimentos políticos, econômicos, sociais, enfim o que gera notícia e está na boca dos aracajuanos. O que mexe com a capital dará uma passada nessa grande esquina virtual.
 
 
Prepare o saco (e não é o de pipoca) para ver reprise
 
Enquanto o cenário eleitoral para as eleições presidenciais de 2018 se mostra nebuloso, ainda mais depois do surpreendente anúncio do julgamento de Lula em segunda instância no TRF4  já em janeiro, aqui em Sergipe, o pleito do próximo ano promete ser o mesmo marasmo de sempre, e quase uma reprise da eleição de governador de 2014.
 
Praticamente todos os candidatos ao governo de 2018 estavam na campanha de quatro anos atrás, ou na última para prefeito em 2016. Para quem espera mudança e ainda se encanta com o discurso clichê de renovação, é bom começar a preparar o saco para rever tudo de novo.
 
O senador Eduardo Amorim será o principal candidato de oposição. A única novidade em relação a 2014 é que ele trocou o PSC pelo PSDB. Por ser médico, ele deverá focar a campanha na questão da saúde pública exaltando as falhas do governo Jackson Barreto na área. Contra si, terá o fardo de carregar praticamente o partido nas costas. Os tucanos nunca tiveram envergadura no âmbito local para ter um candidato próprio ao governo, o que muda próximo ano com Amorim.
 
Porém, o PSDB pode sair chamuscado da operação Caça-Fantasmas do MPE, que investiga cargos de comissão fajutos na Prefeitura de Aracaju. O ex-prefeito da capital, o tucano José Carlos Machado, foi denunciado por peculato e formação de quadrilha e a cúpula do DEM estadual, aliado natural dos tucanos, está envolvida até o último fio de cabelo no esquema. Angariar um apoio da senadora Maria do Carmo, o que poderia garantir votos há tempos atrás, agora, atrai mais rejeição.
 
O candidato da situação, Belivaldo Chagas, estava em 2014 como vice de Jackson Barreto. Para o PMDB, será uma campanha focada em remoer as realizações do governo atual. Uma eventual vitória de Belivaldo pode até dar sobrevida a boa parte do atual secretariado, que seria aproveitado no próximo governo. Mas aí fica a pergunta: Almeida Lima, o pitoresco atual secretário da Saúde, ajuda ou atrapalha a campanha de Belivaldo? E como o PMDB local irá se comportar em relação ao nacional quanto à disputa para a presidência? Continuará rebelde, mesmo com dívidas do estado renegociadas com a União?
 
Os demais candidatos são os nanicos de sempre. Sem chance, só irão dar trabalho às TVs Sergipe e Atalaia na hora de organizar os debates engessados onde não se discute nada relevante, mas é proporcionada muita vergonha alheia. Vale o lazer! Entre os que sempre correm por fora, e que estarão de volta no pleito de 2018, têm-se: Dr. Emerson (Rede), Sônia Meire (PSOL) e João Tarantela (Patriotas).
 
A campanha de 2018, diante dessa falta de caras novas, pode até ter duas surpresas com chances remotas de disputarem o pleito, mas se forem confirmadas, mexem com o meio de campo e acabam com a previsibilidade do embate entre Amorim e Belivaldo. São o ex-deputado Mendonça Prado (ex-PPS, agora DEM) e o deputado federal André Moura (PSC).
 
No caso de Mendonça, o fato de ele ser réu na ação que apura irregularidades na licitação da coleta de lixo, que beneficiou a empresa Torre, coloca um holofote de rejeição na campanha dele. Porém, como, em tese, ele não estava aliado a nenhum grupo político que apoiasse Amorim ou Belivaldo, Mendonça podia até se apresentar como uma terceira via. No entanto, jogou isso fora para voltar ao aconchego do DEM. Poderá se contentar com uma candidatura a deputado federal, embora a mosca azul sempre o rodeie. A aposta em concorrer como governador ainda não está descartada!
 
André Moura pode acabar compondo com Amorim numa grande coalizão de direita e trocar a disputa do governo pela do Senado. Aí só o tempo, e as constantes pesquisas de aceitação e rejeição que ele faz, irá dizer! Como um dos principais aliados de Temer em Brasília, não há muito mistério em adivinhar os resultados de tais sondagens!
 
Boca de Banguelo
 
A partir de 2018, o centro de Aracaju ganhará mais uma atração turística. Trata-se do chamado “Largo da Gente Sergipana”, uma instalação artística urbana formada por um píer que invade as águas do Rio Sergipe, no qual estarão instaladas imensas esculturas de oito figuras típicas dos folquedos sergipanos. A obra já foi iniciada pelo Governo do Estado com um orçamento de R$ 6,4 milhões. No entanto, alguns aracajuanos questionam se a Prefeitura irá reformar o calçadão da Ivo do Prado, onde ficará o novo monumento. “Senão reformarem, vai ficar igual boca de banguelo. Um dentes bons num lugar e nada no resto”, diz um morador do local.
 
Pagaram pela violência
 
Os feirantes da antiga feira da Praça João XXIII, a da Rodoviária Velha, acreditam que só foram removidos de lá por causa da onda de homicídios que tomou conta do centro da capital. Em menos de um mês, foram sete mortes!
“A gente pagou duas vezes, com a violência e com a saída na marra!”, lamenta um feirante do local. Pois é! Remover gente honesta que trabalha dá menos trabalho que investir em segurança!
 
E a reforma?
 
Por falar em Rodoviária Velha, o governo do Estado aguarda há dois anos uma autorização do BNDES para dar início à reforma do local. O projeto já está pronto e licenciado a um custo de R$ 4 milhões, mas esbarra no maior rigor do banco em aprovar projetos públicos. Enquanto isso, Aracaju continua com seu lado de Índia por ali, só faltam as vacas circulando no trânsito. Até que houve uma amenizada com a retirada da feira, mas a bagunça está longe de ser resolvida.