Não importa se as contas públicas estão em dia ou em crise, o setor da publicidade oficial nunca perde espaço. Afinal, é preciso divulgar as realizações dos governos, mesmo quando isso mostra o óbvio, o que não merecia comercial porque é mera obrigação do Estado em toda e qualquer administração. Sergipe está fértil de bons exemplos dessa propaganda inútil com dinheiro do contribuinte.
O Governo do Estado recentemente publicou em suas redes sociais uma espécie de publieditorial em que se autoelogia pelo fato de, em 12 meses, não ter havido nenhuma fuga de preso ou rebelião em Sergipe. Ora, mas isso não acontecer é o normal! Não há nada excepcional nisso que mereça ser destacado. O poder público passa a se vangloriar por ter cumprido sua obrigação.
Além do mais, nesse caso específico, pode-se contar mais com a sorte que com qualquer ação mais contundente para melhorar a situação das casas de detenção. Basta falar com qualquer agente prisional para ver que nem tudo são flores como na publicidade oficial. Tanto isso é verdade que, na mesma postagem, há várias pessoas reclamando do prometido novo concurso para agente, algo que ainda não saiu do papel. Isso o comercial evita!
Durante o Carnaval, quando todo mundo descansava e ninguém ligava pra Jackson Barreto, uma postagem aparentemente inocente roubou a atenção de quem segue o Governo nas redes sociais. A publicidade oficial destacava o fato de o cantor Milton Nascimento ter escolhido Sergipe para passar o feriado. Ué, mas foi o Estado que pagou pela viagem dele? Não! Milton fez alguma permuta com a Emsetur? Tampouco! O Governo apenas se aproveitou da imagem do cantor para se autopromover, como se a decisão dele de visitar Xingó tivesse sido porque Sergipe é bem administrado. Será que Milton sabe que os aposentados e pensionistas do Estado só recebem salários com atraso?
Já na Prefeitura de Aracaju, toda a vez que o salário dos servidores é pago em dia, ou seja, dentro do mês, isso vira release para a imprensa, como se fosse algo extraordinário. Mais uma vez, a obrigação do poder público em pagar o funcionalismo público sem atrasos é transformada em grande feito, e serve para publicidade da administração.
O interessante disso tudo é que em ambas administrações vive-se chorando miséria, com os gestores reclamando da perda de recursos, da arrecadação menor, de aumento dos gastos, da necessidade de cortes. Mas a impressão que se tem é que na área de publicidade tudo parece intocável e não faltam recursos, ainda mais, no caso do Governo do Estado, em ano de eleição. Cadê o Tribunal de Contas e o Ministério Público para exigir uma diminuição nesses gastos? Se o Governo do Estado e a Prefeitura prometeram cortes para economizar, eles têm que envolver a publicidade também, não é mesmo? Ainda mais quando tal propaganda só serve para mostrar o óbvio!
 
Deso na campanha
 
O governador Jackson Barreto reuniu a imprensa, funcionários e toda a diretoria da Deso para dizer-lhes que a empresa de saneamento de Sergipe não deverá ser privatizada. Os estudos de viabilidade nesse sentido encomendados pelo Governo ao BNDES foram suspensos. Bom, Jackson enfatizou que a desestatização não irá ocorrer em seu governo, mas ele deixou o vácuo para o futuro, ou seja, nada garante que, a partir de 2019, quem ganhar a cadeira de governador no Palácio Augusto Franco não vá querer revisitar o assunto, afinal, a situação financeira de Sergipe continuará a mesma. Há quem diga que essa decisão de suspensão da privatização foi mero apelo eleitoral, pois uma medida impopular assim não cairia bem ser tocada para frente em ano de eleição.
 
Queijo suiço!
 
A Prefeitura de Aracaju se vangloria das obras de recapeamento asfáltico na cidade, mas, no Bairro Salgado Filho, somente a Rua Ananias Azevedo foi totalmente asfaltada até agora. No restante do bairro, o que se vê é a buraqueira de sempre. As seguintes vias continuam parecendo queijo suíço: Rua Euclides Paes Mendonça, Rua Francisco Portugal, Rua José Freire, Rua Fenelon Santos, Rua Péricles Muniz Barreto e Rua Américo Curvelo.
 
Impeachment?
 
O deputado estadual Gilmar Carvalho (sem partido) fez uso da tribuna da Assembleia nesta quarta-feira, 28, para lançar a proposta de um eventual impeachment do governador Jackson Barreto. Segundo Gilmar, o Estado não tem feito o repasse correto do valor integral do ICMS a que os municípios teriam direito por lei, ou seja, os 25% do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços estariam sendo retidos de forma irregular nos cofres do Governo do Estado. Isso enseja crime de responsabilidade que pode levar a impeachment. A Secretaria da Fazenda nega, mas alguns deputados de oposição já falam numa CPI, embora saibam que, no fundo, não há clima para isso em ano eleitoral, ainda mais se Jackson sair candidato ao Senado.