Pirro | 04 de Jan de 2018 - 02h01

Chega de ufanismo bocó!

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Canalhice intelectual deturpa nacionalismo


Dois episódios recentes envolvendo empresas brasileiras serviram de pretexto para que certos grupos ideológicos, notadamente de esquerda, deturpassem os fatos em nome de um nacionalismo contraproducente, que mais confunde do que realmente ajuda o país. Em tempos de “fake news” é salutar esclarecer as coisas, pois se tem algo de que o Brasil não precisa é de mais narrativas falsas.
O caso mais recente aconteceu nesta semana, quando foi divulgado que a Petrobras topou fazer um acordo com os acionistas dela nos EUA. Eles processam a empresa por se acharem lesados após os rombos e prejuízos causados na petroleira pela corrupção. A companhia brasileira ofereceu R$ 10 bilhões para que a ação seja encerrada.
A oferta desse valor foi o estopim para que a loucura ufanista sem razão tomasse conta dos sites e blogs de esquerda. Todos com títulos catastróficos e uma farta distribuição de mentiras e pura canalhice intelectual. Lá estavam pérolas como: “Vão vender o Brasil”, “Os EUA criaram a Lava Jato já com essa intenção”, “Lava Jato destruiu as riquezas nacionais”.
Para começo de conversa, não é “venda”, mas um acordo judicial. A Petrobras é ré num processo em que acionistas americanos dela, ou seja donos da empresa também, se sentem prejudicados e pedem ressarcimento. As ações coletivas são comuns nos EUA, elas reúnem inúmeros autores e quase sempre terminam em acordo. Se a Petrobras não oferecesse os R$ 10 bilhões para acabar com o processo, provavelmente pagaria muito mais caro, caso ele fosse até a fase de instrução.
O dinheiro pago é da Petrobras para acionistas da Petrobras. Não tem nada a ver com “crime de lesa-pátria” como esbraveja quem nem entende o que é uma sociedade anônima! Alguns tentam contra-argumentar: “ah, mas por que a empresa não paga aos acionistas brasileiros?” Ora, o pagamento não é voluntário, a petroleira só está dando os R$ 10 bilhões por que há uma ação judicial. Até onde se sabe, não há ação semelhante na Justiça brasileira, fora que os processos aqui andam bem mais devagar que nos EUA.
Outro argumento bocó: “ah, mas isso é mais do que a Lava Jato conseguiu devolver à Petrobras até hoje”. Bom, crime de lavagem de dinheiro não deixa rastro claro como um mapa da mina. É preciso muita investigação, cruzar informações, ter colaboração de autoridades de outros países. Quem rouba não quer que os milhões surrupiados sejam facilmente achados. Diante dos obstáculos, parece razoável até que já tenham sido recuperados R$ 650 milhões roubados da empresa.
Outro fato interessante é a indignação seletiva. Os blogueiros de nariz vermelho se empoleiram todos por causa de uma indenização de R$ 10 bilhões, mas onde eles estavam quando a Petrobras anunciou o maior prejuízo líquido de sua história em 2015, quando ficou no vermelho (que cor linda) em quase R$ 35 bilhões? Prejuízo esse causado pela corrupção!
Outro caso de ufanismo bocó envolveu o suposto interesse da fabricante de aviões americana Boeing em se fundir com a brasileira Embraer. As mesmas manchetes alarmantes brotaram, “Crime de lesa-pátria”, “Querem vender o país”. Só de lê-las, tem-se um sono tremendo! Teve militante defendendo a empresa, privatizada desde 1994, como se ela ainda fosse estatal.
Para começo de conversa, a Embraer tem três divisões: a comercial, que fabrica os jatos de passageiros; a executiva, que fabrica jatinhos para o meio corporativo e a militar, que fabrica equipamentos e aviões militares. O interesse primordial da Boeing é na parte comercial, setor em que ela já atuou em parcerias com a empresa brasileira, mas, como não envolvia fusão, ninguém bradou aos quatro ventos que era “venda de riquezas”.
Na semana passada, anunciou-se que a Boeing também teria interesse na parte militar. Os ufanistas de DCE logo se incharam contra os vendilhões do Brasil. Mas a Embraer já tem parcerias com empresas estrangeiras na área de defesa há anos. O jato cargueiro militar KC-390 é feito em parceria com a Argentina, Portugal e República Checa!
A Embraer é uma empresa privada, em que a União possui apenas 5% das ações preferenciais, as que dão poder de veto no conselho de administração. Os maiores acionistas dela são fundos de investimento estrangeiros, que controlam a companhia há anos, e não causaram furor nas entranhas dos blogueiros bobocas quando compraram as ações da empresa. A União já disse que pretende continuar dona de sua parte e que vetaria uma aquisição pura e simples pela Boeing. Isso não afasta a possibilidade de acordos e um novo arranjo entre as duas partes.
A realidade, quando vista através dos fatos verdadeiros, se mostra bem menos sensacionalista. Colar uma agenda ufanista onde não há motivo para tal e fazer isso com mentiras a favor de uma ideologia igualmente embolorada de tão antiguada se mostra bem inútil. Pode-se dizer até que é passar atestado de burrice!
 
Mais crédito
 
Ano de eleição é uma farra mesmo! A Caixa Econômica voltou a liberar linha de crédito imobiliário a juros mais baixos. As taxas de juros variam de 7,85% a 8,85% ao ano, a menor para quem não se enquadra no programa Minha Casa, Minha Vida. O banco também elevou o limite de financiamento de metade para 70% para imóveis usados. O valor de entrada também foi reduzido, de 50% para 30%. Estão aptos a obter financiamento os trabalhadores que comprovarem vínculo empregatício nos últimos 36 meses com contribuição para o FGTS.
 
Mosca no mel
 
Pouco a pouco, o deputado André Moura (PSC) vai solidificando apoio para sua candidatura ao Senado ou governo do Estado em outubro. O mais novo aliado do parlamentar é o prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho. O que amoleceu o coração de Valmir foi a promessa de liberação por André de R$ 20 milhões em emendas para o município do Agreste. Bastou balançar o pote de mel pra atrair a mosca! No entanto, Valmir disse que caso Eduardo Amorim dispute o governo, seu voto vai para ele, o que forçaria, dentro desse arranjo, que André disputasse mesmo uma cadeira ao Senado.